Quitar um financiamento antecipadamente nem sempre é a melhor opção
Ao acessar uma boa quantia de dinheiro as pessoas, geralmente, se questionam sobre o destino mais adequado para o mesmo. Investir, adquirir bens de consumo ou quitar as dívidas? Nesse contexto torna-se necessário recorrer à famosa teoria do depende. Investimentos são sempre interessantes para quem pensa no longo prazo, mas é bom se atentar se não está pagando mais juros em uma dívida existente do que se obteria em rendimentos na aplicação cogitada. Realizar um sonho comprando um bem de consumo ou fazendo uma viagem há muito desejada, muitas vezes é até necessário, porém, torna-se indispensável um bom planejamento para que não viva um pesadelo financeiro logo em seguida. Temos então a terceira opção: quitar as dívidas. É importante entender um pouco das variáveis que podem influenciar no resultado da decisão.
Não pagar juros é uma excelente prática para quem deseja manter o orçamento sob controle. No entanto, nem sempre isso é possível. Vivemos em uma época onde as coisas acontecem muito rapidamente, somos constantemente assediados pelas campanhas de publicidade, o acesso ao crédito tem sido cada vez mais facilitado e o aumento da renda média da população cria na cabeça da maioria das pessoas a ideia de que possuem segurança financeira, portanto podem acessar os produtos e serviços que desejarem, mesmo sem um planejamento que permita identificar o percentual de aumento para compará-lo ao novo padrão de endividamento pessoal/familiar.
Quando se pretende antecipar o pagamento de um financiamento deve-se considerar alguns fatores importantes, como a taxa de desconto que será utilizada para trazer as parcelas futuras no valor presente e o momento da dívida. Se está no começo, no meio ou se já está prestes a terminar. Outras variantes devem ser avaliadas, mas estas duas se mostram mais importantes neste contexto, por permitir que a análise seja feita mesmo por pessoas que desconhecem os cálculos financeiros que dirão quanto deverá pago.
Saber a taxa de desconto é importante, não para a pessoa lançá-la na fórmula, ou em uma calculadora financeira e já comparar com o valor disponível para saber se consegue ou não quitar a dívida. Seria muito bom se todas as pessoas pudessem fazer isso, mas sabemos que não é bem assim. Portanto, o que se propõe é comparar a taxa que será utilizada para calcular o desconto com uma taxa de juro que programará um novo financiamento, caso haja interesse em adquirir um novo bem. Se a taxa de desconto for maior que a taxa de juro quite imediatamente e parta para um juro mais barato, caso contrário mantenha o financiamento e compre a vista.
Já sobre o período da dívida, a análise consiste em saber se o financiamento está apenas no começo, se já está em torno da metade, ou se está quase acabando. Em geral, os bancos e financeiras utilizam um sistema chamado PRICE, criado por Richard Price em 1771, cuja principal característica é apresentar as prestações/parcelas iguais. Se paga o mesmo valor da primeira até a última prestação. Este sistema procura remunerar o dono do dinheiro, os bancos e as financeiras, nas primeiras parcelas, ou seja, do meio para trás. Após a metade do financiamento o juro pago começa a se tornar menor que o capital, quer dizer que se decidir antecipar uma dívida que já passou do meio não perceberá tanta diferença quanto sentiria em uma dívida que ainda esteja nas primeiras prestações. Nas primeiras, a parcela é composta muito mais por juro do que de capital, então se retirados os juros torna-se visível a vantagem.
Não havendo planos para novas aquisições, viagens ou investimentos, nem tem muito que analisar, o melhor é quitar maior número de dívidas possível.
Autor: Alexsandro Silva
Economista e Consultor em Finanças